Quem sou eu

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Rio Claro, SP, Brazil
Meu nome é Mariana Gabriela Fonseca, prazer. Sou formada em Imagem e Som pela UFSCar (turma 2000 a 2003) e atualmente curso Ciências Biológicas na Unesp Rio Claro (Turma de 2007 até atualmente). Atuo como professora eventual na rede pública Estadual de ensino e tenho grande paixão pelo meu trabalho. Pretendo me formar na licenciatura e fazer pós graduação em Educação. Acredito em uma nova educação, diferente do que é hoje praticada nas escolas brasileiras. Para mim, o método de ensino em vigor é precário e obsoleto, não segue o fluxo das mudanças decorrentes de uma série de transformações sociais, econômicas, comportamentais e tecnológicas. Por isso, estou sempre procurando inovar em minhas aulas, mesmo que muitas vezes falhe e/ou caia no tradicional. Afinal, errando é que se aprende.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

... O retorno, das cinzas! ...

Depois de um período "off", me recuperando da pneumonia e em seguida, do interbio (que por sinal foi MUITO MAS MUITO MAS MUITO BOM MESMO), voltei à ativa. Sexta feira dei 3 aulas de inglês para sextas séries. Confesso que fui pra escola num mau humor absurdo, porque voltar à árdua realidade depois de 4 dias num universo paralelo não é nada animador. Daí a aula começou e a sala era tão boazinha, que fiquei até animada. A segunda classe, também uma sexta série, já decepcionou um pouco, muita bagunça e descontrole, mas até que deu pra segurar a onda. O melhor foi reencontrar os alunos das outras séries, que vieram todos me abraçar, beijar, perguntar quando é que vou dar aula de novo pra eles, que sentem minha falta. Lindo isso né? Fiquei emocionada e orgulhosa de mim mesma. A galerinha do primeiro colegial mais legal do mundo entrou na sala em que eu estava dando aulas pra falar oi e ainda ameaçaram os pobrezinhos dos pivetinhos, caso eles não obedecessem a "Sôra". RS RS. Achei demais! Hoje me ligaram logo cedo, não atendi. Fugi, confesso. Me arrependi, tb confesso. Mas ah, agora deixa....

terça-feira, 14 de abril de 2009

... The Worst Week ...

Ufff... Tristeza total. Nada pior do que ficar uma semana inteira sem trabalhar, sem sair de casa, sem poder ver a cara da rua. A professora Mariana teve péssimas notícias ontem numa consulta que levou 3 horas para ser realizada num desses hospitais meio públicos meio particulares: Sinusite e Pneumonia. Me derrubou. Tô só o pó. Pior que isso, sexta feira começa o interbio em Brasília. Tudo pago, tudo no esquema. Foi meu presente de Natal. Danou-se.

Sai pra lá, uruca!

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Ser professor

Ser professor é professar a fé e a certeza de
que tudo terá valido a pena se o aluno sentir-se feliz pelo que aprendeu com você e pelo que ele lhe ensinou...
Ser professor é consumir horas e horas pensando
em cada detalhe daquela aula que, mesmo ocorrendo todos os dias, a cada dia é única e original...
Ser professor é encontrar pelo corredor com cada
aluno,olhar para ele sorrindo, e se possível, chamando-o pelo nome para que ele se sinta especial...

Ser professor é entrar cansado numa sala de aula e, diante da reação da turma, transformar o cansaço numa aventura maravilhosa de ensinar e aprender...
Ser professor é envolver-se com seus alunos nos mínimos detalhes, vislumbrando quem está mais alegre ou mais triste, quem cortou os cabelos, quem passou a usar óculos, quem está preocupado ou tranquilo demais, dando-lhe a atenção necessária...
Ser professor é importar-se com o outro numa dimensão de quem cultiva uma planta muito rara que necessita de atenção, amor e cuidado.
Ser professor é equilibrar-se entre três turnos de trabalho e tentar manter o humor e a competência para que o último turno não fique prejudicado...

Ser professor é ser um "administrador da curiosidade" de seus alunos, é ser parceiro, é ser um igual na hora de ser igual, e ser um líder na hora de ser líder, é saber achar graça das menores coisas e entender que ensinar e aprender são movimentos de uma mesma canção: a canção da vida...
Ser professor é acompanhar as lutas do seu tempo pelo salário mais digno, por melhores condições de trabalho, por melhores ambientes fisicos, sem misturar e confundir jamais essas lutas com o respeito e com o fazer junto ao aluno.

Perder a excelência e o orgulho, jamais!
Ser professor é saber estar disponível aos colegas e ter um espírito de cooperação e de equipe na troca enriquecedora de saberes e sentimentos,
sem perder a própria identidade.
Ser professor é ser um escolhido que vai fazer "levedar a massa" para que esta cresça e se avolume em direção
a um mundo mais fraterno e mais justo.
Ser professor é ser companheiro do aluno, "comer do mesmo pão", onde o que vale é saciar a fome de ambos, numa dimensão de partilha..
Ser professor é ter a capacidade de "sair de cena, sem sair do espetáculo".
Ser professor é apontar caminhos, mas deixar que o aluno caminhe com seus próprios pés...

(Autor desconhecido)

Zombie Walk!

Nooossaaaaaa meu Deeeeeus! Que que foi esse dia? Acordei 5 e meia de novo, café da manhã, cigarro, roupas e bora pra escola, aula de Ciênciaaaaas! Surpresa surpresa! Tinham cerca de 15 a 20 alunos!!! E a surpresa maior: A sala era a mesma que me fez chorar. A que fez um pandemônio, me tirou dos eixos. Dessa vez, estavam mais tranquilos, na medida do possível. Me pediram desculpas por aquele dia (é, eles sempre se lembram), foram carinhosos. A professora deles havia deixado a matéria que eu deveria passar: Reações Químicas. E enquanto explicava, percebi que eles não sabiam "pitricas" do assunto. Nem mesmo o que é um elemento químico, um átomo, um composto. Peraí! Como que eles estavam tendo REAÇÕES QUÍMICAS sem saber o básico?!  
"Ah, sôra, a nossa professora não faz nada, não explica nada, ela só passa a lição e pronto".
Pasmei, e me empolguei para explicar o porque-do-porque da química. E eles gostaram, muito, ficaram admirados. Vitória. Depois de dada a lição sobrou tempo para eles jogarem baralho e eu descansar, esperando o sinal bater. Uma garota quis conversar comigo sobre sexo. Ok, vamos falar de sexo. Fiquei penalizada com a menina, 15 anos e não sabia o que era penetração, apesar de ter perdido a virgindade há poucos meses. Penetração? Orgasmo? Esperma? Óvulo? Ahm?! É... que triste, ela perdeu a virgindade sem saber o que estava fazendo. Gozar, não existe para ela, e sim "gosmar". Calma, vamos começar do começo. Pênis, vagina, penetração. Prazer, orgasmo, esperma. Relaxamento. Ela não sabia que o orgasmo era uma coisa que mulheres poderiam ter. E sexo oral é falar coisas sujas no ouvido. Mas sabia o que era um "boquete". É isso, sexo oral, linda! Ahhhh!!!! Nooossaaaa!!! Que coisa! É.......................... Me deu um pôster de um ator ou cantor bonitão, que tirou de uma dessas revistas adolescentes. Presentes e mais presentes, um mais inusitado que o outro. Ainda vou fazer um post em homenagem aos presentinhos que ganho. Ok, acabou a aula, vamos para a outra escola. Educação Física. Foi simples assim: Peguem a bola e divirtam-se. Os meninos, futebol. Algumas meninas, vôlei. E as outras, conversa vai conversa vem. A primeira turma deu um certo trabalho, perderam a bola de futebol, levaram suspensão. A segunda, bem tranquila. Mas confesso que foi entediante ficar 1:40h sentada, jogando conversa fora com as alunas. Meio dia e 15 a coordenadora me pede para dar a aula do meio dia e meia. Como assim?! Eu preciso comer! "Come com a gente, aqui na escola"... "Ah não. Preciso buscar minha mãe no trabalho!" (ahm, ok, menti, mas meu... sem condições!). Marcaram então as duas últimas aulas da tarde, Matemática, primeiro colegial. Bora pra casa, almoço, meio cigarro e cama. Duas horas de descanso, acordo parecendo um zumbi. Força na peruca! Aulas beeeem tranquilas. A professora havia deixado o material também, foi só escrever na lousa e já era. A última turma foi minha preferida, um primeiro colegial que me adora e eu adoro eles. Muito mas muito gostoso dar aula para essa sala. Me respeitam. Brincam na hora certa. Temos afinidade. Que ótima maneira de acabar um exaustivo dia de trabalho. Escolas e mais escolas me ligando, desesperadas por um substituto para hoje. Véspera de feriado é assim mesmo... Sorry, meu dia já está cheio.
Bora pra casa, café com leite, pão com manteiga, cigarro, um pouco de afago nos gatos e na cachorra, um bate papo com minha mãe e agora.... ufa! Ainda estou tomando forças para entrar no merecido banho e morrer na cama.

Ahhh, Terceirão!


Ufa! Acordei 5 e meia, com uma tosse demoníaca. Achei que fosse expelir meu pulmão pela boca. Alguns comprimidos estranhos e marrons e uma colherada de um xarope, todos MADE IN CHINA, que minha irmã me deu, tomei meu café da manhã, fumei um cigarro, e fui. De manhã parece que tudo é mais tranquilo. Não sei se por conta do sono ou da maturidade, mas as aulas foram muito tranquilas. Consegui me sentir de fato uma professora. Terceiros colegiais são o máximo. É muito mais fácil lidar com uma sala onde falam a mesma lígua que eu, as mesmas gírias, as mesmas músicas, o mesmo universo. Tá, eu sei que já não tenho 17 anos, aliás, estou uma década à frente deles, mas acho que por conservar um espírito jovem e estar sempre rodeada de amigos de 18, 19 anos, consigo me comunicar perfeitamente com a turma. Fora isso, a maneira como posso explicar a matéria é diferente, mais livre. Eles já não estão mais no be-a-bá das coisas, pelo menos na maioria das vezes. Daí a coisa flui melhor. Hoje eram aulas de Física e a cada dia me surpreendo com minha própria capacidade de relembrar as coisas muito rapidamente, de conseguir explicar com facilidade, de conquistá-los. Nas duas últimas aulas tive um pouco mais de trabalho com a sala, eram muito inquetos e desafiadores, algumas meninas com uma certa malícia, talvez até inveja em relação a mim. Pode gorar, estou de corpo fechado. Ganhei um chaveiro de uma mini-bíblia, que abrindo o zíper encontram-se vários cartõezinhos coloridos com provérbios, salmos, etc. Achei legal por parte do aluno ter me dado isso. Coisas assim nos deixam mais alegre. Ahh, e teve também o momento máximo do "cala boca sua pirralha boba". Estava explicando um exercício a um garoto, e no meio de tantos cálculos chegamos a um 8 x 9 que me deixou confusa. Stress, a sala falando ao redor, sei lá, me deu um branco, nada demais, coisa normal. Virei e perguntei aos alunos ao redor: "Gente, 9 x 8 mesmo?!"
- " O loko, professora -
a menina boba - Vc não sabe nem tabuada?! Que faculdade você fez mesmo?"

- "UFSCar e atualmente UNESP" - (tá bom assim, menina boba?! hauhauihauihauhiau)

O melhor de tudo foi a expressão que ela fez. De um sorriso bem maldoso, para um :O , boquiaberta, juro, com a boquinha aberta, e soltou um:

- "Nossa, sôra... que legal!"

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
(CALA A BOCA SUA PIRRALHA BOBA) kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Ok, agora sério. Talvez esses pensamentos soltos que jogo aqui pareçam de uma pessoa frustrada, angustiada, desgostosa da vida que leva, precisando se auto-afirmar às custas da ingenuidade e imaturidade adolescentes. Não é nada disso, acredite.
Indescritível a sensação que tive ao sair da escola hoje. Disposta, feliz, realizada. Valeu a pena, e foi sem dor. E ainda sobrou ânimo para tomar a vacina da febre amarela.
Amanhã vai ser hilário. Marcaram duas aulas de CIÊNCIAS (UHUL, FINALMENTE!!!!), mas por ser véspera de feriado, aposto e ganho que vão ter 3 ou 4 alunos sonolentos na sala. E eu. Tudo bem, tudo bem... Ah, e o melhor: depois dessas aulas, adivinha... o mais bizarro: 3 AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
PÁRA TUDO E CHAMA A NASA. A NAJA. A CLEÓPATRA. TÁ TUDO ERRADO. Como assim? Ah, legal, amanhã é dia de jogar bola com a garotada. Mal posso esperar.

Agora boa noite, senão já viu....

terça-feira, 7 de abril de 2009

Depois de um dia exaustivo, todo mundo descansa, menos eu!

Imagine a situação: Ontem passei o dia todo de cama, com febre, me sentindo mal. Uma gripe daquelas. Me preparando para hoje, um dia em que teria 6 aulas diretas para dar. Aí hoje eu acordei mais cedo, fiz meu almoço, comi, me arrumei e fui para a escola. Entre 2ºs e 1ºs colegiais, tive que segurar aula dupla com uma 5ª série daquelas. Sabe, nem todas as 5ªs séries são ruins, mas algumas realmente dão arrepios em qualquer professor. Depois dessa aula, entraram os alunos do primeiro colegial, que cá entre nós não eram dos mais comportados também. Minha garganta ardendo, não aguentava mais berrar. Para conseguir resolver UM exercício na lousa, levei uma aula inteira. Não deveria ser assim. Qual é o problema desses alunos afinal? Falta de vontade, de incentivo, de educação? Eu não entendo, e sinceramente, estou perdendo o interesse em tentar entender. Cada dia mais me torno aquela professora chata, insuportável, que só grita e dá ordens. Culpa deles, não minha. Porque quanto mais eu tento ser legal e diferente, menos consigo controlar a sala. Chego em casa num desânimo incrível, parece que passou um trem de 50 vagões por cima de mim. FOME, muita fome. E ainda tenho que ir para a minha aula na faculdade. Surpresa: ninguém em casa, nada pronto para comer. É desanimador. Tudo o que eu queria era descansar, como todo mundo faz quando chega em casa de um dia exaustivo. Mas não. Ainda tenho que me virar cozinhando 3 ovos, que é tudo o que encontro na geladeira, tomar banho e ir para a faculdade. Isso não é vida.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Você tem cara de idiota!

As piores salas para se dar aula, na minha opinião, são as de ensino fundamental e as do período noturno. Uma noite, estava dando uma aula hiper empolgada de Física, se não me engano, quando a turma se dispersou. Eu costumo ser uma professora bem tranquila, não pego no pé de quem está dormindo, ouvindo música no fone de ouvido, ou passando bilhetinhos. É o que costumo dizer a eles: Quem quer, aprende. O aprendizado é responsabilidade 50% do professor e 50% do aluno. Se eles querem mesmo mudar a dura realidade, devem ter responsabilidade, maturidade, e entender que depende mais deles do que de qualquer pessoa para que isso aconteça. Pode dormir, pode ouvir música, pode escrever bilhetinho. Não está afim de prestar atenção, tudo bem, contanto que não atrapalhem a aula, contanto que respeitem o fato de que queiram ou não, aquilo é uma sala de aula e há muita gente interessada em aprender.
Bom, voltando àquela aula. Era um 1º ou 2º Colegial, não me lembro exatamente. Chamei a atenção deles para que parassem com a conversa e retomassem a concentração. Todos pararam, menos duas garotas, que haviam juntado a carteira e eu tinha feito vista grossa pra tal fato. "Silêncio meninas". Nada. "Silêncio meninas". Nada. Devo ter pedido silêncio umas 4 vezes antes de gritar um SILÊEEEEEEEEEEEEEEENCIO estridente. Elas me olharam, uma pediu desculpas, a outra começou a rir. E ria, ria, ria, sem parar. E eu olhando pra ela, esperando a crise passar. Mas não adiantava. Ela olhava pra mim e ria. Isso me estressou.
"Você está rindo do que, afinal? Por acaso tenho cara de palhaça?!" "Não sei, professora, a senhora acha que tem cara de palhaça?!" 
"Quem está fazendo a pergunta aqui sou eu, isso é uma tremenda falta de consideração, você está faltando com o respeito comigo" 
"Eu acho que você tem cara de idiota".
 
(BANG BANG YOU'RE DEAD.)

Uma situação dessas era muito nova e muito fora da realidade das escolas particulares em que estudei. Como agir? Me senti um tanto quanto humilhada, mas um pouco sem reação. Peguei o nome dela, fiz uma anotação no diário de sala, e continuei com a aula, com aquilo entalado. E ela não parou de conversar a aula toda, e olhava para mim e ria. No intervalo, a coordenadora me perguntou se a aula tinha sido tranquila, porque aquela sala tinha fama de ser terrível. Daí, comentei do ocorrido, e ela ficou admiradamente possessa!
 
"Isso não pode acontecer! Isso é muito sério!!!!"

Já estava na última aula quando a diretora apareceu na porta da sala acompanhada da tal garota. Pelo que percebi, a menina havia tomado uma bela duma "ralada", com direito a chamarem os pais (que não quiseram nem saber dela, por sinal) e tudo. Ela me pediu mil desculpas, assumiu que o que fez foi errado e disse que se eu quisesse, poderia pedir desculpas frente à sala, já que o que ela havia feito tinha sido na frente deles. Não achei necessário. Aceitei as desculpas, terminei minha aula, e fui embora, um pouco abalada, mas muito mais forte.

O dia em que chorei.

Bom, depois da primeira aula, eu perdi o medo de entrar numa sala de aula. Adquiri mais confiança, comecei a tomar gosto pela coisa. Mas vida de eventual nem sempre é um mar de rosas. Pra começar que nem sempre (aliás, quase nunca) sou chamada para dar aula de Biologia. Como disse uma professora da faculdade, somos "professores prostitutos - damos qualquer coisa pra qualquer um". Confesso que não gostei muito dessa definição, mas no fundo sei que é isso mesmo. Um belo dia me chamaram para dar aula de inglês. Peguei o material que minha irmã usa para dar as aulas de inglês dela, e fui, toda animada. Mas... aquela escola me tirou do sério. Foi ali que percebi que não sou muito fã de alunos do ensino fundamental. São muito imaturos, infantis, pré-potentes. E quando eu entro na sala, eles percebem que sou substituta e a coisa muitas vezes desanda, porque eles acham que eu não tenho autoridade alguma. Nesse dia, eu sofri. Sofri de verdade. Uma oitava série fez o pandemônio dentro da sala. Imagina um monte de alunos indisciplinados, dispostos a fazer uma professora sofrer. Um menino não parava de repetir: "shut up, shut up shut up" insistentemente. Uma garota ficava querendo me desafiar, falava frases em inglês para eu traduzir, e quando eu traduzia ela dizia que estava errado, que eu não sabia de nada. A outra toda hora arrumava um grande motivo para sair da sala, ir ao banheiro, beber água, etc. Quando vi, estava tudo de ponta cabeça. Quando vi, eu estava aos berros, pedindo silêncio, pedindo pelo amor de Deus que sentassem, que me respeitassem. Haviam pessoas EM CIMA DAS CARTEIRAS, DANÇANDO. Aviões de papel para todos os lados, gente se batendo, gritando... E eu tentando colocar as coisas em ordem. Não aguentei. Era uma aula dupla, eterna. Parecia que não ia acabar nunca. Senti aquele nó na garganta e os olhos cheios de lágrimas. Minutos antes de o sinal bater, eu apenas olhei para eles e disse: "Eu só desejo que vocês cresçam, amadureçam e acima de tudo, aprendam a respeitar as pessoas. Fiquem com Deus, beijos!". Uma menina me olhou e disse: " hahahaahah, é a segunda professora que a gente faz chorar!". E ela disse isso com um certo sentimento de vitória, uma gargalhada maléfica. Quando entrei para dar aula na outra sala, desabei a chorar. Mas me reergui, e a aula foi muito mais tranquila, o que me deu um tremendo alívio. Na sala dos professores, os comentários sobre aquela oitava série eram todos de revolta. Nenhum professor gostava deles. Ufa, ainda bem que não sou só eu!

De repente, eventual

Daí um dia, minha mãe me disse: "Já que você precisa trabalhar, por que não aproveita e presta o concurso para ser professora eventual ?". Hum... a ideia não me pareceu nada mal, já havia tido algumas experiências com ensino, quando fiz monitoria num museu em São Carlos, e passava o dia recebendo grupos de escolas e ensinando um pouco de arte para eles. Venho de uma família cheia de professores, minha mãe foi professora primária por muito tempo, minha avó, tia... Decidi apostar nisso e fiz o tal concurso. Durante as férias, achei que fosse ter tempo para preparar algumas aulas, e achava que ia dar aulas apenas de Ciências e Biologia. A real mesmo, é que eu achava que não ia ser chamada NUNCA para dar aula, ou que ia ser uma coisa muuuuito eventualmente mesmo. Hahaha, pobrezinha de mim, tão bobinha! Um belo dia, ainda em férias da faculdade, toca o telefone. Eu estava deitada, eram 8 e meia da noite. Minha mãe entrou no quarto que nem um furacão e com o telefone na mão disse:
-"Levanta, vai dar sua primeira aula!".

( Ahm?!?!?!?!? Meu Deus, como assim? )

-"Alô?!"


-"Alô, Mariana?"

-"Sim"

-"Mariana, você pode vir AGORA dar aula de Química?"

-"Ahm?! Ah, posso sim, já já estou aí"

-"Ok, estamos te esperando, venha o mais rápido possível!"

Levanto, descabelada, escovo os dentes, pego meu livro de química, de biologia, acendo um cigarro e saio, desesperada, com medo, ansiosa, pensando: O QUE RAIOS EU VOU FALAR PARA ESSES ALUNOS?! Achei mesmo que chegando na escola iam me dar algum material, alguma direção, um apoio, sei lá! Daí eu chego lá, uma mulher olha na minha cara e diz:  

- "É você a eventual? Venha comigo..."

Fui seguindo ela pelos corredores, quando chegamos em frente a uma sala de 2º Colegial, aqueles alunos todos na maior bagunça, ela diz:  

- "É aqui. Boa aula!" 

E simplesmente SUMIU!

(Ok ok, mantenha a calma, Mariana, você é capaz!)

  Entrei na sala, fiquei cerca de 5 minutos de frente para a sala, olhando para os alunos. Eu tremia mais que vara verde.  

-"Boa noite, Sôra" 

Demorou pra cair minha ficha, mas sim, a "Sôra" era eu, e eles estavam ansiosos para que eu ao menos abrisse a boca e dissesse alguma coisa. Foi o que fiz. Me aprensentei, engasguei, e comecei a falar de... Aquecimento Global. Puts, que assunto manjado, eu sei, mas nas minhas condições, era tudo o que conseguia pensar. Foi um desastre na verdade, me embananei toda, mas nos últimos 15 minutos de aula eu estava mais solta, respondendo a dúvidas e mais dúvidas dos alunos em relação à Biologia. O que são gêmeos, o que é fecundação, efeito estufa, fertilização in vitro, clonagem, etc etc etc. O sinal bateu, de repente. Era intervalo. Satisfeita e um pouco decepcionada comigo mesma, fui à sala dos professores devolver a chave da sala, achando que era aquilo e só. Daí a diretora chega e diz:

-" Não, bem... você ainda tem 2 aulas!" 

(DUAS AULAS? MAIS DUAS AULAS? DUPLA EM UMA ÚNICA SALA? O QUE EU VOU FALAR EM 1 HORA E 10 MINUTOS AFINAL? SOCORRO!)

Folheei vorazmente meu livro de Biologia, à procura de um assunto que fosse tranquilo, e parecia que até mesmo fotossíntese era difícil naquele momento, minha cabeça não ia, não funcionava! Aí uma luz acendeu: GENÉTICA! Ótimo, então estava decidido, eu ia dar uma aula de Genética básica, um assunto que eu dominava melhor e achava que seria de grande utilidade para eles. Beleza, entrei na sala de aula, dessa vez mais calma, mais confiante. Escrevi a palavra Genética na lousa, e quando olhei para os alunos, eles me olhavam com um grande interrogação nos olhos. Foi quando me dei conta de que talvez esse assunto fosse novidade para eles. Então, comecei a perguntar o que eles sabiam sobre aquilo. Surpresa: NADA! Não sabiam nada, nem mesmo o que era GENÉTICA, GENES, DNA. "Hello, Mariana! Aqui é a realidade das escolas públicas. Acredite se puder, no 2º colegial eles não sabem o que é um gene e o que ele faz". Apesar da dura verdade, isso me deu mais motivação para ensiná-los. Foi o Bê-a-Bá da genética. Muito interessante, por sinal, mas tá, eu sou suspeita pra falar. Saí daquela escola nas nuvens. Começou ali uma paixão em minha vida: ser professora.

Oi, prazer!

Acho sempre tão difícil começar um blog. Já tive milhares deles, em geral não diziam nada em específico, mas significavam muita coisa para mim. Às vezes tanto, que eu acabava pondo um fim nele por achar que estava expondo demais minha pessoa. Este vai ser diferente (é sempre assim...). Acho que um bom começo é me apresentar. Pois bem, vamos lá. Prazer, me chamo Mariana, tenho 26 anos (no ano em questão né gente...) e estudo Biologia na Unesp Rio Claro. Estou no terceiro (e bem chato) ano. É minha segunda faculdade. A primeira foi de Imagem e Som, na UFSCar. Um curso meio sem pé nem cabeça, totalmente open mind, uma coisa ampla que envolve cinema, teatro, artes, tv, rádio, fotografia, filosofia... Enfim, um curso de Comunicação e Artes multidisciplinar, que me abriu os olhos para o mundo, me deu base para formar opiniões e me localizar melhor no planeta. Assim, no papel, é a coisa mais linda do mundo. Mas na prática, é uma profissão sofrida. O trabalho é esgotante, mal reconhecido, o salário geralmente é medíocre e para conseguir um emprego bom, em uma empresa televisiva, por exemplo, ou vc tem um ótimo Q.I (quem indica) ou tem que fazer favores sexuais a metade dos funcionários, a começar pelo porteiro, que nunca te deixa entrar na empresa para entregar o curriculo no R.H. Tá, pode estar sendo meio exagerado, mas pra mim, os 3 anos pós- faculdade que passei trabalhando como editora de vídeos foram frustrantes. Não que eu não goste de edição de vídeo, adooooro, mas francamente, não me traria muito retorno. Um belo dia, em 2006, me vi detrás de um balcão de locadora, com um diploma de faculdade FEDERAL na gaveta. Crises e crises existenciais depois, resolvi tomar uma atitude, porque definitivamente, ficar parada vendo a vida acontecer não é meu lema. O sonho de estudar Biologia vinha desde que me conheço por gente, e naquele momento me pareceu uma boa alternativa. Joguei tudo para o alto. Deixei para trás toda uma história de vida que tive em São Carlos, desde os 17 anos de idade, deixei a melhor fase da minha vida por lá, amigos, namorado, minha kitnet e algumas tralhas. E voltei para a casa da mamãe. Confesso que cheguei um tanto quanto sem chão, em frangalhos devido a uma recém curada depressão, um namoro que já não andava mil maravilhas e um sentimento de frustração absurdo. Estava me sentindo num filme de David Lynch, onde nada mais fazia sentido. Recomeçar do zero. Restart, reset, formatar. Era bem por aí. Sem amigos, sem emprego, sem dinheiro, sem saber direito o que estava fazendo ali. Daí me matriculei num cursinho. Tinha 4 meses para me preparar pro vestibular, depois de ficar 7 anos sem estudar absolutamente nada daquilo que é cobrado. Mas fui, com a cara e a coragem. Achava mesmo que não ia passar, ainda mais porque só ia prestar o vestibular da UNESP e nada mais. Mas consegui, incrivelmente, eu consegui. A vida já tinha mais cor, era o início de uma nova fase. O zero passara a 1, e eu estava disposta a me dedicar de verdade ao novo curso. Três anos depois, cá estou eu, abrindo um blog para contar as experiências que estou tendo como professora eventual nas escolas públicas, expôr um pouco de meus medos e anseios, e as frustrações que sempre aparecem... Prazer, meu nome é Mariana, e agora chega, já falei demais!




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