Gente, tá aí uma coisa que não consigo deixar de repetir: levo meses para retomar o fôlego - muitas vezes por falta de tempo, outras por falta de ânimo - e escrever aqui no blog. Foram tantas e tantas turbulências que nem sei por onde recomeçar. Mas recomecei. Ontem postei um texto sobre as Cartas na Manga (para entender melhor, leia: Respeitável Público!) e hoje resolvi dar continuidade ao post que ficou incompleto, Uma pausa, um bloqueio e algumas Gestalts. Sendo assim, mãos à obra:
Logo após ter me inscrito como professora de Arte, minha escola sede me avisou que estavam sem o professor de Arte e que gostariam muito que eu assumisse as aulas. Já me apresentaram algumas turmas e comecei a elaborar um plano de aula. Fiquei bastante animada, e os alunos também. Pretendia incluir um pouco das artes audiovisuais em sala, já que minha graduação na Imagem e Som me dera vasto conhecimento na área. O dia da atribuição foi um pesadelo. Era aniversário da minha mãe, e ainda assim ela me acompanhou até Limeira para resolver a parte burocrática da coisa. Chegando lá, econtramos o que era de se esperar: dezenas de professores amontoados, aguardando seu lugar ao sol. Foi demorado, muito demorado. Ficamos cerca de 4 ou 5 horas esperando. Quando finalmente chegou minha vez, um "baque": Minha inscrição ainda era como professora de Ciências. Tentei explicar toda a situação, insistir que havia me inscrevido como professora de Arte, mas a bagunça e falta de organização por lá continuam me surpreendendo. Não constava qualquer inscrição minha na área. Estava ainda cadastrada como Professora de Ciências. Fiquei com um pé atrás, tentei explicar MAIS UMA VEZ, que estava com a matrícula da faculdade suspensa e sendo assim não conseguiria atribuir as aulas de Ciências. Mas, como sempre, mal me ouviram e insistiram, insistiram, e acabei assinando uns papéis para aulas de Ciências em uma escola no fim do mundo, aqui em Rio Claro. No mesmo dia fui até a escola onde atribuí, conversei com eles, me passaram uma lista de documentos e insistiram que meu Laudo Médico deveria ser emitido ainda naquele dia, para que eu não perdesse a chance. De lá pra cá, emprestei dinheiro de minha irmã, fiz o tal exame médico admissional, e obviamente, me deparei com um problema que já havia previsto, mas ninguém quis ouvir: O certificado de matrícula no semestre em questão. Impossível, minha matrícula estava suspensa. Precisava repetir? Não, mas ninguém me ouviu, e acabamos sendo barrados pela realidade. Fui à minha escola sede e pedi ajuda. Por fim, a orientação que me deram foi: Fica na sua, não levanta essa lebre. Você não poderia nem mesmo estar como eventual, dada a sua suspensão na faculdade. Então, foi isso o que aconteceu. Sem aulas de Arte, sem aulas de Ciências. Voltei ao marco zero, fiquei como eventual. Meses mais tarde, um de meus alunos, que teria aulas de Arte comigo caso as coisas tivessem sido executadas da maneira certa, me questionou por que eu havia abandonado a turma. Refutei, disse que houveram problemas burocráticos, e ele me disse que lá na escola, a informação que passaram para todas as turmas foi de que eu não quis dar aulas de Arte para eles e havia desistido. Sim, eu fiquei bem revoltada e magoada. Por fim, deixei quieto.
Neste mesmo ano, uma escola de periferia me convidou para acompanhar algumas turmas que estava desde o começo do ano sem professor de Química, e enquanto ninguém atribuísse, eu seria a professora deles. Aceitei o desafio, apesar do medo. Senti medo pois Química sempre foi meu calo, a unha encravada. De qualquer maneira, com o passar do tempo, consegui organizar meus conhecimentos, entendi que aqueles alunos não sabiam nem mesmo dizer do que se tratava a disciplina de Química e comecei um trabalho muito legal com eles, do comecinho: O que é Química.
O semestre correu bem, mas quando chegamos ao fim, mais problemas. Em primeiro lugar, a coordenação havia me pedido para preencher os Diários de Classe de todas as turmas, desde o começo do ano. Chegaram até mesmo a me prometer incluir umas aulinhas extras no pagamento pela ajuda. Me deram cerca de 8 ou 9 Diários nas mãos, todos em branco. Foi um inferno. Passei horas e horas tentando colocar em ordem. Faltas, conteúdo... que sacrilégio. Fiz este trabalho sujo (que fique claro: este não é o trabalho do professor eventual, e sim do efetivo, ou seja lá de quem atribui as aulas, menos do eventual) e quando estava quase tudo certinho, faltando duas semanas para o fim do ano letivo, adivinhem? O professor efetivo daquelas turmas, que havia passado o ano todo afastado, retornou. Caso clássico, revoltante. Este é o típico professor que deveria fazer qualquer coisa, menos se meter a dar aulas. Todos os anos o cara dá dessa. Assume as aulas, e uma semana depois, tira licença atrás de licença. Os alunos ficam jogados às traças, todos os anos. Algum professor eventual faz todo o trabalho por ele, e faltando poucos dias para o fim, ele retorna, para não perder a sua parcela do 13º, férias, e os benefícios que só um efetivo tem. Revoltante, no mínimo. Minhas cadernetas estavam quase todas prontas, e eu pretendia levá-las para a escola, afim de que o professor terminasse (afinal não era mais trabalho meu - ou melhor, nunca fora). Só que, aí é que vem a outra bordoada... Quando as escolas não precisam mais do seu trabalho, é incrível como passam a te tratar com hostilidade. Ligaram em minha casa e foram muito, mas muito ríspidos, EXIGINDO que eu entregasse as cadernetas todas preenchidas, num determinado prazo. Queriam que EU terminasse, entregasse tudo lindamente mastigadinho, para o sem vergonha do efetivo (perdoem a fúria, mas para mim professor que tem tal atitude não tem mesmo vergonha na cara). E sabem o que aconteceu? Não entreguei foi nada. Em parte, pela raiva que senti, e em outra, pq o fim do ano chegou e tive mais o que fazer, não tive tempo nem saco para terminar nada. Me senti um rolo de papel higiênico quando chega ao fim. Me senti humilhada e fiquei demasiadamente triste. Já deveria estar acostumada com o desrespeito, que parte não só dos alunos e Governo, mas da própria Direção ou Coordenação. Secretários, diretores, coordenadores, professores efetivos... todos parecem ter um desgosto natural contra professores eventuais. São incontáveis as histórias que teria para lhes contar, de como somos alvo de injustiça, intolerância, desrespeito. Continuo batendo na tecla: Se o professor efetivo já tem problemas para ter respeito, para o eventual pode elevar a mil e multiplicar por cem. As pedras vêm por todos os lados.